27 de jul. de 2009

Apagar o coração II - Principe Encantado

«Se está à espera do Dia dos Namorados para arranjar um, não fique sentada. Faça como uma amiga minha que cada vez que sai do carro, vira o retrovisor para o lado do condutor, retoca o batom e diz com uma convicção demolidora o Príncipe pode estar em qualquer lado. E pode mesmo. É uma questão de fé, totalmente arbitrária e alietória, mas pode acontecer. Até porque nós, os extraordinários, somos poucos, mas andamos por aí. Isto é o que diz outro amigo meu que por acaso é mesmo extraordinário e já encontrou a pessoa certa, pelo menos por enquanto. Foi ele que um dia me explicou o que era esse maravilhoso conceito da pessoa certa. A pessoa certa não é a mais inteligente, a que nos escreve as mais belas cartas de amor, a que nos jura a paixão maior ou nos diz que nunca se sentiu assim. Nem a que se muda para nossa casa ao fim de três semanas e planeia viagens idílicas ao outro lado do mundo. A pessoa certa é aquela que quer mesmo ficar connosco. Tão simples quanto isto. Às vezes demasiado simples para as pessoas perceberem. O que transforma um homem vulgar no nosso príncipe é ele querer ser o homem da nossa vida. E há alguns que ainda querem. Os verdadeiros Príncipes Encantados não têm pressa na conquista porque como já escolheram com quem querem passar o resto da vida, têm todo o tempo do mundo; levam-nos a comer um prego no prato porque sabem que no futuro nos vão levar à Tour d’Argent; ouvem-nos com atenção e carinho porque se querem habituar à música da nossa voz e entram-nos no coração bem devagar, respeitando o silêncio das cicatrizes que só o tempo pode apagar. Podem parecer menos empenhados ou sinceros do que os antecessores, mas aquilo a que chamamos hesitação ou timidez talvez seja apenas uma forma de precaução para terem a certeza que não se vão enganar. O Príncipe Encantado não é o namorado mais romântico do mundo que nos cobre de beijos; é o homem que nos puxa o lençol para os ombros a meio da noite para não nos constiparmos ou se levanta às três da manhã para nos fazer um chá de limão quando estamos com dores de garganta. Não é o que nos compra discos românticos e nos trauteia canções de amor no voice mail, é o que nos ouve falar de tudo, mesmo das coisas menos agradáveis. Não é o que diz Amo-te, mas o que sente que talvez nos possa amar para sempre. Não é o que passa metade das férias connosco e a outra metade com os amigos; é que passa de vez em quando férias com os amigos. O Príncipe que sabe o que quer, não é o melhor namorado do mundo; é o marido mais porreiro do mundo, porque não é o que olha todos os dias para nós, mas o que olha por nós todos os dias. Que tem paciência para os meus, os teus, os nossos filhos e que ainda arranja um lugar na mesa para os filhos dos outros. Que partilha a vida e vê em cada dia uma forma de se dar aos que lhe são próximos. Que ajuda os mais velhos a fazer os trabalhos de casa e põe os mais novos a dormir com uma história de encantar. Que quando está cansado fica em silêncio, mas nunca deixa de nos envolver com um sorriso. Não precisa de um carro bestial, basta-lhe uma música bestial para ouvir no carro. Pode ou não ter moto, mas tem quase sempre um cão. Gosta de ler e sai pouco à noite porque prefere ficar em casa a namorar e a ver o Zapping. Cozinha o básico, mas faz os melhores ovos mexidos do mundo e vai à padaria num feriado. O Príncipe é um Príncipe porque governa um reino, porque sabe dar e partilhar, porque ajuda, apoia e nos faz sentir que somos mesmo muito importantes. Claro que com tantos sapos no mercado, bem vestidos, cheios de conversa e tiradas poéticas, como é que não nos enganamos? É fácil. Primeiro, é preciso aceitar que às vezes nos enganamos mesmo. E depois, é preciso acreditar que um dia podemos ter sorte. E como o melhor de estar vivo é saber que tudo muda, um dia muda tudo e ele aparece. Depois, é só deixa-lo ficar um dia atrás do outro... e se for mesmo ele, fica. »

Margarida Rebelo Pinto

Será que existe alguém lá fora, agora, depois de ti, depois de nós, depois de todo o tempo que tenho enrolado em mim, que ainda me faça sentir que o mundo ainda gira, nem que seja só ás vezes, e que um dia vou voltar a encostar-me devagarinho a um qualquer peito e sentir que afinal, o meu coração não deixou de bater quando os teus braços me deixaram cair? :(

Sinto-me só. E não sei lidar com isso.

3 comentários:

:) disse...

Ora bem, apesar de não apreciar muito a autora desse texto (foi minha professora e disse-nos que o que escreve não é necessariamente o que acredita, mas aquilo que sabe que vende - e sobre isso não a julgo, cada um faz o que pode para viver), ela não poderia estar mais certa. O Príncipe Encantado/A Princesa Encantada, ou a Pessoa da Vida de alguém, não é forçosamente o Amor da nossa Vida, mas sim quem nos acompanha durante o nosso percurso terreste. Não é a Sra. ou Sr. Perfeito, mas sim um pessoa com defeitos e virtudes que nos aceita como somos e gosta de nós assim.

Só não concordo com esta parte: "vira o retrovisor para o lado do condutor, retoca o batom e diz com uma convicção demolidora o Príncipe pode estar em qualquer lado". É mesmo coisa de mulher, usar o retrovisor para retocar a maquiagem. Não admiram os acidentes rodoviários. E acaba por ser um contra-senso no que é dito a seguir. Porque o Príncipe Encantado não se encanta por lábios pintados e sim por um coração bonito (ainda que a imagem também conte, com é óbvio).

Barbie Martini disse...

Querido Gimbras...
não sei se te lembras, mas tu vieste parar aqui á Sapataria como sendo o Prince Charming... e nem que seja só aqui, pra mim continuas a se-lo.
Agora, se conheceres algum Principezito aqui da minha zona, tenho o maior gosto em ser apresentada :P

kiss kiss

:) disse...

Ele vai aparecer um dia. Ainda te vai bater à porta. Tens é de a abrir.

Beijos.