18 de fev. de 2009

Stop the Clock

Tenho dias em que, quando a luz aparece naquelas manhãs cinzentas em que o meu corpo pede mais e mais lençóis, os meus olhos se abrem.
Não, os meus olhos não se abrem todas as manhãs, ás vezes eu enrosco-me melhor, deixo-me sentir o aconchego das mantas da cama ou quem sabe daquele corpo que eu vou amar até que finalmente a luz me vença ou o relógio obrigue e então os olhos que desejo manter fechados se abram.
Um dia alguém me disse uma frase e essa frase sou eu. «Amo-te, pelo menos até de manhã. Não vamos pensar no depois».
A Mafalda Veiga diz numa das suas letras "...seremos cúmplices o resto da vida... ou talvez só até amanhecer..."
Sempre acreditei nas palavras desta senhora, acreditei tanto que fiz delas a banda sonora da minha vida.
[Tenho um amigo que teima em fazer-me feliz com músicas da Mafalda, músicas que marcaram momentos e sorrisos que vivemos juntos. Amo esse amigo por isso. Para mim, ele será sempre o restolho dos meus dias mais felizes].
Tento não fazer cara feia quando a persiana se abre e a claridade me fere os olhos, sou actriz de uma peça por mim criada, protagonista de uma vida á porta fechada, sentida na pele suave de quem com sexo me afasta as mágoas, das mãos que me agarram e me chamam escrava ou mestra de acordo com a vontade que tenho de vingar as minhas dores.
Aprendi a arte antiga das gueixas por mim mesma, sentir o tempo que se esvai por entre os meus dedos, usa-lo com mestria, fazer correr a lingua pelos sitios certos desses olhos em forma de corpo que crivam em mim o desejo que trazem por dentro.
Abraçar na hora certa, deixar-me levar na hora certa, descontrair sem complexos no fim,na hora certa, quando encontrarem os deuses por breves momentos e deixarem para trás o caos.
Depois de toda a mestria, de tudo o que fiz para me impedir de amar de novo para não sofrer, apareceu uma tentação da alma. São as mais perigosas, porque as tentações do corpo não me afectam, estou preparada para lidar com elas, faze-las caminhar pelas minhas mãos até me fartar. E a verdade é que me farto depressinha.
Alguém me ensina a conjugar nesta vida estranha que eu tenho uma tentação da alma?
Não me apaixono, não amo, não sinto dor. Estou já imune ás coisas "boas" do coração.
Mas tenho isto. Um calo na alma, de tanto bater com ela na parede.
Chamou-me submissa uma destas noites.
E nunca ninguém tinha tido coragem para me dizer na cara aquilo que eu só mostro aos anjos.
Can you please stop the clock a little while? I just need to think about this.

Um comentário:

inv3rs0 disse...

dos melhores textos que já li.e não o melhor texto que já li teu...talvez porque há várias palavras cantadas que me recordam cada momento, talvez porque a mafalda, o palma, o tê, o manel cruz têm o poder de cantar a nossa vida.sim, a vida é nossa e é toda igual, toda a gente passa pelas mesmas situações apenas diverge a forma de as encarar..somos todos da mesma espécie, a que chora, sofre, ri, sonha, a Humana!

bjo